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Por que o programa FCAS não vai naufragar: oficial francês minimiza crise entre Dassault, Airbus e parceiros

Oficial diz que relatos de conflito foram exagerados e reforça compromisso com o programa FCAS para substituir Rafale e Eurofighter na década de 2040

por Jefferson S Publicado em 07/11/2025

Oficial diz que relatos de conflito foram exagerados e reforça compromisso com o programa FCAS para substituir Rafale e Eurofighter na década de 2040

Relatos sobre uma suposta briga entre os parceiros do programa FCAS foram exagerados, afirmou um dos principais representantes franceses no projeto, em declaração que busca acalmar aliados e mercados. Em Roma, durante a conferência International Fighter, o Brigadeiro-General Phillipe Suhr, o ponto de contato da Força Aérea da França para o projeto, disse que embora existam diferenças, não se deve confiar em tudo o que tem sido divulgado.

Segundo Suhr, “Há diferenças, mas não acredite em tudo que você está lendo“. Ele reforçou o compromisso conjunto: “Continuamos totalmente comprometidos com este programa com nossos parceiros e faremos o nosso melhor para encontrar uma solução para seguir em frente porque temos de fazê-lo. É importante entregar na década de 2040“, declarou, colocando ênfase no prazo de substituição dos atuais Rafale e Eurofighter.

O que o oficial francês disse

O pronunciamento do Brigadeiro-General Suhr veio num momento em que matérias vêm destacando um atrito entre a francesa Dassault e parceiros como a Alemanha, por controle do projeto e divisão de trabalho. A polêmica ganhou força quando o CEO da Airbus, Guillaume Faury, disse no mês anterior que, se a Dassault não estivesse satisfeita com sua participação, estaria livre para sair: “Portanto, se eles não estiverem satisfeitos com o que foi decidido e não concordarem em continuar nessa configuração, estão livres para decidir sair do FCAS“, afirmou Faury.

Suhr procurou relativizar reportagens que atribuíram exigências extremas à Dassault. “Quando você lê que a Dassault quer 80 por cento, isso não é a realidade“, afirmou, numa tentativa de reduzir o ruído e preservar a continuidade do programa FCAS entre França, Alemanha e Espanha.

Disputa entre Dassault e Airbus e riscos ao cronograma

O programa FCAS foi lançado em 2017 pela França e Alemanha, com a Espanha aderindo posteriormente, e tem por objetivo entregar uma aeronave de sexta geração para substituir Rafale e Eurofighter por volta de 2040. A divisão de tarefas e controle industrial, especialmente entre Dassault e a participação alemã via Airbus, foi o foco das divergências públicas.

Enquanto a França busca garantir um papel essencial para a Dassault como prime contractor, a indústria alemã tem defendido uma partilha mais ampla. O risco dessa disputa é o atrasar das decisões e do cronograma, até porque, no mesmo período, surge um esforço paralelo, o consórcio GCAP entre Itália, Reino Unido e Japão, que tem mostrado progressos industriais.

Na esteira desse cenário, a italiana Leonardo informou que, até dezembro, terá registrado mais de €1 bilhão em contratos nacionais relacionados ao projeto de caça, e seu CEO Roberto Cingolani afirmou aos analistas que “Nossos concorrentes estão desacelerando“. Essa dinâmica alimenta a preocupação de que atrasos no FCAS possam beneficiar alternativas concorrentes.

GCAP e a corrida por soberania tecnológica

Embora o programa FCAS continue como o projeto continental franco-alemão-espanhol, a consolidação do GCAP — o caça de sexta geração entre Itália, Reino Unido e Japão — é vista por alguns parceiros europeus como uma oportunidade para balancear colaboração e autonomia industrial. O Coronel Antonio Vivolo, representante técnico sênior do GCAP no Ministério da Defesa da Itália, deixou claro que o objetivo não é apenas obter uma nova aeronave, mas também manter e desenvolver “soberania tecnológica e industrial“.

Na sua fala em Roma, Vivolo declarou: “O objetivo não é apenas obter um novo caça, o objetivo é obter e manter soberania tecnológica e industrial para que, quando cenários, ameaças e parceiros mudarem, possamos reconfigurar nossa capacidade sem renegociar nossa liberdade de ação com um terceiro“. Ele completou, “Sem essa profundidade de soberania, a sexta geração permaneceria um belo conceito governado por outra pessoa, e isso não era uma opção“.

Ao mesmo tempo, Vivolo destacou a importância de entrar nas negociações com requisitos claros: “Ao chegar à mesa com um conjunto de requisitos baseado em capacidades… nos tornamos um parceiro confiável, previsível e útil“. Esses argumentos mostram que, além das questões de participação industrial, o debate sobre o programa FCAS envolve decisões estratégicas sobre autonomia, cooperação e futuro da aviação militar europeia.

Em resumo, apesar das manchetes sensacionalistas sobre uma possível ruptura, lideranças envolvidas no projeto tentam transmitir uma mensagem de continuidade e pragmatismo. O desafio agora é transformar esse compromisso político e retórico em acordos industriais concretos, para que o programa FCAS cumpra o objetivo de entrar em serviço na década de 2040, sem que a competição entre consórcios europeus e internacionais prejudique prazos e soberania.

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