Drones FPV e fibra óptica na guerra: lições de um treinador ucraniano sobre jamming, taxas de sucesso e peças de reposição
Treinador da unidade Typhoon diz que 'qualidade sobre quantidade' e adaptação às contramedidas eletrônicas definem eficácia dos drones FPV e fibra óptica
Treinador da unidade Typhoon diz que qualidade sobre quantidade e adaptação às contramedidas eletrônicas definem eficácia dos drones FPV e fibra óptica
Uma entrevista com um analista da unidade ucraniana Typhoon, conhecido pelo indicativo “Alex”, revela em detalhes como a guerra moderna depende de decisões técnicas de curto prazo e de treinamentos profundos para operadores de drones FPV e drones por fibra óptica. Criada em 2024, a unidade concentra-se em sistemas não tripulados e adaptou-se rapidamente a um ambiente marcado por intensas tentativas de jamming e pela necessidade de improvisação em campo.
Escassez de pilotos e a necessidade de conhecimento técnico
Segundo Alex, “Eu diria que sim. Há uma escassez de pilotos, mas, ainda mais, de pessoas motivadas.” Ele explica que treinar um piloto do zero não é simples: “Em geral, leva pelo menos três meses para treinar pilotos do zero até o nível iniciante.” A fala evidencia que o perfil procurado vai além de habilitação para controlar sticks, e exige noções de engenharia.
“Quando você está na posição, tem que entender como o sistema funciona. Se algo dá errado, você deve ser capaz de consertar; se o drone cai, precisa descobrir como fazê-lo voar novamente,” disse Alex, ressaltando que pilotos eficazes são também técnicos capazes de trocar componentes em serviço. Por isso, a unidade prioriza o aprofundamento de conhecimento e a troca rápida de informações sobre o que funciona no campo.
Guerra eletrônica, jamming e táticas de redundância
A maior dificuldade, segundo o analista, é obter informação em tempo real sobre o que está acontecendo no campo e antecipar mudanças, porque “muitos sistemas russos agora podem cobrir quase todo o espectro de frequências.” Ainda assim, há lacunas operacionais: “eles não podem operar 24 horas por dia, muitas vezes faltam energia e pessoal”. Aproveitar janelas curtas de oportunidade é, portanto, crítico.
Para contornar o jamming, operadores de FPV vêm adotando multiplicidade de receptores e polarizações. Alex descreve que “alguns FPVs agora usam múltiplos receptores com antenas em diferentes polarizações para superar sistemas de jamming. Essa redundância funciona bem”. O uso de dois ou três receptores em frequências separadas, combinado com antenas lineares e circulares, aumenta a probabilidade de manter controle mesmo sob forte interferência.
FPV versus fibra óptica: taxas de sucesso, vantagens e vulnerabilidades
Sobre eficiência, Alex fornece estimativas diretas: pilotos altamente habilidosos podem alcançar uma taxa de sucesso de missão em FPVs de “aproximadamente 70% a 80%”. Pilotos de habilidade média alcançam “40% a 50%”, enquanto operadores novatos podem chegar a apenas “20%”. Essas taxas mostram como a experiência é determinante para a eficácia das operações com drones FPV.
No caso dos drones por fibra óptica, a situação é diferente. Alex estima que “para drones por fibra óptica, talvez 40% a 50% seja o melhor que se consegue”, porque fatores como intensidade de artilharia que pode cortar o cabo, condições meteorológicas, tráfego amigável que eventualmente corta a linha, e planejamento de rota, tornam essas missões mais sensíveis. Outra vulnerabilidade técnica em evolução é a própria qualidade da bobina do cabo. Ele relata que os russos melhoraram seu alcance, “antes eram 15-20 km; agora, às vezes, são 25-30 km”, citando o ataque a Kramatorsk como exemplo do aumento de alcance operacional.
Além disso, Alex destaca diferenças em plataformas ocidentais. Ele menciona que sistemas de asa fixa de reconhecimento, como o alemão Vector e o polonês FlyEye, se mostraram entre os mais eficazes. O que diferencia esses projetos é integração direta com unidades de solo, feedback rápido e capacidade de modificação local. Em contraste, alguns drones menores vindos do Ocidente e de fabricantes sem contato direto com a linha de frente têm mostrado desempenho inferior sob condições reais de jamming.
Em resumo, a lição trazida pelo analista da Typhoon é clara: no ambiente presente, a adaptabilidade técnica, o suprimento rápido de peças sobressalentes e o treinamento profundo de pilotos com perfil de engenheiro são tão vitais quanto a própria quantidade de plataformas. Enquanto os FPVs oferecem altas taxas de sucesso na mão certa, os drones por fibra óptica ampliam alcance mas exigem cuidado redobrado com logística e rota, e ambos dependem de inteligência e rapidez para superar contramedidas eletrônicas.
O relato de Alex coloca a guerra dos drones como uma batalha contínua de engenharia, treinamento e inteligência de espectro, onde cada detalhe — desde o diâmetro do fio de fibra óptica até a polarização de uma antena — pode decidir uma missão.