Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alerta para “guerra contra o fogo” enquanto incêndios sem precedentes, agravados por seca extrema e possíveis ações criminosas, transformam o céu em um cenário apocalíptico
O Brasil está enfrentando uma crise de incêndios florestais sem precedentes, que atingiram desde as profundezas da Amazônia até o sudeste rural, cobrindo as cidades de Brasília e São Paulo com uma densa fumaça que tem causado o fechamento de escolas e o cancelamento de voos. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, declarou que o país está “em guerra” contra o fogo, após um aumento histórico no número de queimadas, que inclui a maior alta em quase 20 anos na Amazônia durante o primeiro semestre de 2024.
Marina Silva, uma ambientalista experiente, destacou que o aumento repentino de incêndios na zona rural do estado de São Paulo é “incomum” e revelou que a Polícia Federal está investigando as causas. Três pessoas já foram presas em conexão com esses eventos, que muitos temem serem uma repetição do “Dia do Fogo” de 2019, quando uma onda de queimadas deliberadas e politicamente motivadas devastou a Amazônia.
Em entrevista após uma reunião de emergência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra afirmou que o país está enfrentando uma verdadeira guerra não só contra o fogo, mas também contra o crime. Segundo ela, diversas localidades no interior de São Paulo começaram a queimar simultaneamente em apenas dois dias, um fenômeno sem precedentes nos anos de experiência de combate às queimadas.
Três dos seis biomas do Brasil — a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado — têm sido fortemente impactados desde o início do ano, com recordes de incêndios atribuídos à seca feroz agravada pela crise climática e pelo fenômeno El Niño. Especialistas alertam que o país está preso em um “ciclo vicioso de queimadas”, onde os incêndios produzem gases de efeito estufa que intensificam as mudanças climáticas, causando secas extremas que, por sua vez, alimentam novos incêndios.
O estado de São Paulo, um dos mais importantes economicamente, foi recentemente o centro das atenções devido ao aumento das queimadas em plantações de cana-de-açúcar e fazendas. Nas redes sociais, moradores compartilharam imagens apocalípticas do céu tingido de laranja e cinza, com nuvens de fumaça negra dominando o horizonte. Em Campinas, uma residente descreveu a situação como “o apocalipse chegou”.
No interior do estado, em Altinópolis, centenas de pessoas foram obrigadas a evacuar um festival de música eletrônica quando as chamas consumiram o local do evento. Em Brasília, a situação não foi menos dramática, com o céu obscurecido por uma densa camada de fumaça, semelhante aos cenários de poluição extrema das cidades chinesas. Na cidade vizinha de Goiânia, mais de uma dezena de voos foram cancelados devido à baixa visibilidade.
Rodrigo Agostinho, diretor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), destacou que a seca extrema deixou a Amazônia e o Pantanal particularmente vulneráveis ao fogo. No entanto, ele enfatizou que a maioria das queimadas no Brasil são iniciadas por ação humana, muitas vezes para desmatamento ou por motivos ainda mais sinistros. Atualmente, cerca de 3.000 bombeiros estão lutando para controlar os incêndios, mas há temores de que a situação possa piorar ainda mais até outubro.