Cientistas descobrem indícios de que a energia escura, que impulsiona a expansão do universo, pode estar enfraquecendo, sugerindo possível reviravolta cósmica
Energia escura – representação SpaceNow

Estudo revolucionário com o maior mapa 3D do cosmos já feito aponta para uma possível mudança na força da energia escura, que há décadas acreditava-se ser constante, e pode marcar o início de uma nova era no universo

Um novo estudo surpreendente realizado pela colaboração Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI) trouxe à tona uma possível mudança na compreensão da energia escura, a misteriosa força responsável pela expansão acelerada do universo. Analisando dados de 6,4 milhões de galáxias, os cientistas notaram um indício de que essa energia pode estar enfraquecendo, o que, se confirmado, poderá redefinir as teorias cosmológicas atuais. Os resultados, apresentados em abril deste ano, provocaram uma reação imediata na comunidade científica, com físicos de diversas partes do mundo revisitando suas conjecturas sobre o futuro do universo.

A energia escura, que compõe cerca de 70% da massa-energia do cosmos, é um dos maiores mistérios da física moderna. Desde 1998, acreditava-se que essa força era constante, funcionando como uma “constante cosmológica” que se mantém uniforme enquanto o universo se expande. Contudo, os dados do DESI sugerem que essa hipótese pode estar errada. A análise combinada desses dados com outras observações astronômicas indicou um cenário em que a energia escura está, na verdade, em evolução, o que implica em uma aceleração cósmica variável ao longo do tempo.

Essa revelação foi recebida com entusiasmo e cautela pelos cientistas. Nathalie Palanque-Delabrouille, uma das líderes do projeto no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, destacou que, embora os resultados ainda não sejam definitivos, a tendência observada aponta para um enfraquecimento da energia escura. Pesquisadores como Alek Bedroya, que estavam acompanhando a apresentação do DESI, já especulam sobre as implicações desse fenômeno, questionando a compatibilidade dos novos dados com teorias existentes, como a “quintessência”, que prevê uma energia escura variável.

Essa possível mudança no comportamento da energia escura faz parte de uma discussão mais ampla na física teórica, especialmente em relação à “terra pantanosa” (swampland) dos modelos cosmológicos impossíveis. Paul Steinhardt, um dos proponentes da teoria da quintessência, argumenta que essa variabilidade é mais plausível do que uma constante cosmológica fixa, que seria uma anomalia entre as formas conhecidas de energia. A pesquisa sugere que estamos prestes a entrar em um período em que essas teorias serão testadas com precisão inédita.

No entanto, ainda há divergências entre os especialistas. Alguns, como Marina Cortês, da Universidade de Lisboa, questionam a interpretação dos dados do DESI, acreditando que futuras observações poderão favorecer a hipótese da constante cosmológica. A equipe do DESI já está analisando mais dois anos de dados de mapeamento galáctico, com novas descobertas esperadas para a primavera de 2025. Até lá, a comunidade científica continua a debater o significado dos resultados preliminares.

Independentemente do desfecho, essa pesquisa lança luz sobre a importância de explorar as fronteiras do conhecimento cosmológico. Como Robert Caldwell, um dos pioneiros da teoria da quintessência, observou, a energia escura continua sendo “literalmente o maior problema do universo”, e qualquer avanço em sua compreensão pode ter implicações profundas para o futuro do cosmos e para a própria existência da humanidade.

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